Quando o assunto é o tratamento para dependentes químicos, é importante entender que essa é uma questão que atinge aspectos da saúde física e psicológica de uma pessoa. Portanto, o seu tratamento deve ser realizado de maneira multidisciplinar, incluindo profissionais de diferentes áreas.
Uma dessas áreas é a psicologia, que dará o suporte para questões emocionais e psicológicas do dependente. A psicóloga Bruna Moraes, pós-graduada em Psicopatologia e Dependência Química, concedeu uma entrevista e explicou o papel do acompanhamento psicológico no tratamento para dependentes químicos. Confira:
Entrevistadora: Qual a importância do acompanhamento psicológico em um tratamento para dependência química?
Bruna: A dependência química é uma doença que envolve o físico e também o psicológico. Dessa forma, a terapia é imprescindível para que a pessoa tome consciência de seu estado, da necessidade de ajuda, trabalhe as questões que podem ter contribuído para a instalação da dependência e crie estratégias de enfrentamento para a recuperação.
E: Como funciona esse acompanhamento na prática?
B: A abordagem psicológica mais indicada para a pessoa dependente de álcool e/ou outras drogas é a Cognitivo Comportamental, principalmente se for no processo de tratamento. Na prática, trata-se de sessões diretivas semanais com aproximadamente 50 minutos, além de técnicas e métodos práticos direcionados a fase de tratamento ou de vida que o indivíduo se encontre.
E: Qual é o papel do psicólogo no tratamento para dependência química? E dentro de uma clínica de recuperação?
B: O papel do psicólogo no tratamento da dependência química é de acolher com o objetivo de desenvolver vínculo e empatia, conscientizar e promover reflexão para aceitação da doença e do tratamento e estimular a motivação para a recuperação, além de utilizar técnicas para munir a pessoa de estratégias de enfrentamento. Com a pessoa institucionalizada os objetivos são iguais, porém com tempo determinado e auxiliando a pessoa a concluir o período de tratamento, sem abortar ou desistir.
E: Dentro de uma clínica de recuperação como acontece a terapia individual? E a em grupo?
B: Quando a pessoa é acolhida na clínica, é feito um PTI (Plano Terapêutico Individual) que diz respeito a levantar um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas para as demandas da pessoa, dentro deste plano está a terapia psicológica individual. Com relação às atividades em grupo no período de internação, trata-se de:
- Grupos operativos cujo objetivo é promover um processo de aprendizagem sobre assuntos pertinentes à doença, tratamento e recuperação;
- Grupos psicoeducativos que se dedicam a informar sobre as emoções e o manejo das mesmas, além de outras questões que se fazem necessários para orientar a pessoa dependente sobre como lidar consigo mesmo, o outro e o mundo;
- Grupos de compartilhamento ou sentimento, nos quais a pessoa pode falar de forma livre sem receber julgamentos sobre seu sentimento e assim compartilhar com os pares a emoção que esteja sentindo naquele momento. Pode ou não receber feedback do profissional que está conduzindo o grupo.
E: Qual a efetividade da terapia individual ou em grupo para a recuperação do dependente químico?
B: A terapia se torna efetiva quando o dependente consegue encontrar nesse lugar, um espaço para acolhimento, receptividade de suas dores sem julgamento e consequentemente alívio para as mesmas. É no processo psicoterápico que ele se fortalece para o enfrentamento dos riscos e o manejo das emoções, que em geral são os principais gatilhos que o levam ao uso. Quando isso acontece entende-se que ele possa ter ressignificado o papel das drogas em sua vida, ou seja, não existe mais necessidade da droga para alívio das dores ou preenchimento do vazio, pois agora ele consegue manejar suas emoções ou pelo menos dividi-la com outra pessoa que o poderá conduzir no momento de crise.
E: Em quais etapas do tratamento a terapia se faz presente e necessária?
B: Em todas, porém no primeiro momento a pessoa precisa prioritariamente se desintoxicar fisicamente a fim de recuperar a autocrítica e então conseguir receber e interiorizar o que está sendo dito e trabalhado.
E: Um paciente que deixa a clínica de recuperação pode manter o acompanhamento psicológico fora da clínica?
B: Não só pode como deve. Aliás, não só o dependente de álcool e/ou outras drogas, como todos nós. A terapia promove o autoconhecimento, o autocontrole emocional e a ressignificação de traumas e questões passadas que causam sofrimento hoje. Quando a pessoa recebe alta da internação e retorna para seu convívio social, a diferença pode ser gritante e causar um impacto negativo se não estiver sendo assistida por alguém. Ela se depara com as pessoas e o mundo da mesma forma, porém ela está diferente, no sentido de que agora terá de fazer evites, lidar com suas emoções, realizar reparações, talvez reconstruir relacionamentos sem a droga e para auxiliá-la em tantas mudanças a terapia se faz extremamente necessária.
Buscando o tratamento correto para dependência química
No momento de procurar um tratamento para um dependente químico, o primeiro passo é buscar um profissional. A dependência química é uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e deve ser encarada como tal.
É muito importante buscar o diagnóstico clínico de um médico. A partir deste diagnóstico, é preciso pesquisar sobre o tratamento e as diferentes instituições que o oferecem. E caso a família esteja em dúvida sobre a internação, existem alguns sinais que podem ajudar nessa decisão:
- mudança total de hábitos, passar a viver em em função do uso da substância;
- presença de atitudes agressivas;
- perda completa do autocuidado e higiene;
- envolvimento em atitudes criminosas;
- consequências expressivas para a saúde, como desenvolvimento de doenças físicas e/ou psicológicas;
- sentimentos, pensamentos e atitudes suicidas.
Ao identificar pelo menos três dos sinais citados acima, é interessante considerar a possibilidade da internação.
A Clínica Revive oferece uma intervenção multidisciplinar, incluindo acompanhamento psicológico no tratamento. Quer saber mais sobre o tratamento para dependentes químicos? Acesse outros conteúdos da Revive ou entre em contato.